quarta-feira, 13 de abril de 2016

Nãosei

16:09. Acordei às 16:02, assustada. Pensei: porra! Estou atrasada para o trabalho?! Que dia é hoje? E logo levantei a cabeça, notei a claridade do dia, obviamente estava claro demais e com certeza eu estaria atrasada pra alguma merda. Nada. Era 16:02, vi no celular. Eu já tinha trabalhado hoje.
Venho despertada de um ridículo pesadelo que com certeza fala de forma distorcida dos meus atuais sentimentos. Sonhei com cebola e fiz macarrão com cebola no almoço. Mas, não, isso não tem nada a ver. É só uma informação mesmo. Risos. Sonhei que estava infeliz com os corações românticos que atualmente existem para me amar. Lembro-me de fugir, na cara de pau, da porcaria de um ex qualquer louca para não assumir compromisso nenhum e nem me deparar com as expectativas dos outros. - até em sonho, o negócio tá feio.
Acordei. As 16:02. Nem sabia que dia era hoje em primeira instância. Gradualmente a realidade foi me tocando... Eu já tinha trabalhado, hoje é quinta, o sol está claro assim porque o dia já quase se acaba para iniciar a noitinha, comi cebola no almoço e to com bafo disso, tem uma construção lá em baixo do meu prédio, sonhei com fuga de compromissos, fugi de um hoje, sonhei que não suportava novas paixões, fugi de uma hoje, sonhei que por algum motivo eu preferi ficar sozinha com as minhas dores a "dividir" a minha existência com outro alguém, hoje escolhi ter uma dor poética para me fazer companhia na volta do trabalho para casa enquanto eu ouvia Marisa Monte. E caí. Não da cama! Caí em mim. Que raio de dor poética é essa que personifiquei numa esquizofrênica companhia?! Estou louca?! Ou amor é tem dessas?!
Caí em mim e me lembrei do que me disse hoje Marisa Monte na hora do almoço: "Se ela me deixou, a dor
É minha só, não é de mais ninguém
Aos outros eu devolvo a dó
Eu tenho a minha dor". Caí e comecei a chorar. Desesperei-me. Peguei um hino de amor sofrido de uma cantora de mpb pra dar sentido a minha negação da realidade de ter sido deixada por alguém que julgava o único para poder me amar. Caí mais fundo. Eu, poeta? Eu, com veia de poeta? Eu, transformando uma realidade ordinária em poesia? Porcaresia.
Não existe dor que me acompanhe verdadeiramente, que me aninhe. Como foi que pude chegar a este nível de negação da realidade? Meu ego deve ser tão frágil para suportar a negação de Caetano Veloso que escolhi ser poeta pra não ver o que estava à minha frente.
Ocorre que minha fantasia quebra em alguns momentos. E as 16:02 ela se quebrou. A bicha é falha, entende?! Made in China.
Me veio uma chibatada de lapso da realidade: você não está aqui, não estará. Já seguiu! E eu empurrando isso tudo com a barriga. Ainda pensando em formas de te conquistar e em maneiras eficazes de me prender nessa história e não sair de maneira nenhuma. E provavelmente, enquanto isso, você sendo abraçado por um novo-antigo aninho. E nada de mim por aí, e por aqui, só essa visita estranha que resolvi chamar de bff, a tal da dor que Marisa Monte também descreve.
Já são 16:31. O susto foi significativo, mas automaticamente já voltei pra minha fantasia. Quinta, quase hora de ir pra faculdade, preciso limpar a sacada, guardar o macarrão com cebola na geladeira, e pegar um ônibus ouvindo Marisa pensando em Caetano, fingir que nada aconteceu e florescer fruta podre.